Paladares açorianos ..! .
Uma viagem ao arquipélago é sempre uma oportunidade para provar o que de melhor a queijaria açoriana oferece aos apreciadores. Assim, uma deslocação rápida a Ponta Delgada e uma visita a'O Rei dos Queijos (ver entrada específica sobre essa magnífica loja) permitiram regressar a casa com um leque de bons queijos para provar.
Começamos com o queijo curado velho, da Queijaria O Morro, da Horta (ilha do Faial). Esta queijaria, relativamente recente, tem tido bastante sucesso no mercado açoriano e começa a estar presente em algumas lojas no continente e no exterior, apresentando como principal característica um tipo de pasta bastante mais amanteigada do que o que é habitual nos queijos da região. O queijo que provamos, produzido com leite pasteurizado, de cura mais longa (60 dias mínimo) e barrado de colorau, é agradável, com uma textura ainda bastante elástica, um sabor não demasiado marcado, sendo que o aroma e paladar melhorou francamente depois de passadas algumas horas após a abertura. É um queijo a rondar as 400 gramas e tem condições para agradar a uma ampla franja de consumidores.
Depois passamos para um queijo da Queijaria Leal, do Pico, queijo não certificado mas com as características próximas do DOP daquela ilha. O Queijo do Pico é produzido com lei cru, vai para o mercado com um mínimo de 20 dias de cura e apresenta-se como um disco cilíndrico de 16-17 cm de diâmetro e menos 4 cm de altura. O queijo que provamos estava ainda com uma cura muito pouco pronunciada, sabor láctico excessivo e uma pasta pouco firme e algo farinhenta. Não fez jus à fama e qualidade normal dos queijos produzidos naquela ilha.
Seguimos para um queijo Ilha, com 7 meses de cura, da Cooperativa dos Lourais, uma das cooperativas independentes da ilha de S. Jorge. Este queijo, não certificado, já apresentava algumas das características que distinguem os melhores queijos daquela ilha, com algum picante e uma textura onde eram já sensíveis as formações de cristais. Seguramente mais alguns meses de cura iriam adicionar-lhe qualidades. Tinha algumas manchas na pasta a demonstrar que a cura não teria ocurrido, na sua fase inicial, da forma mais adequada e, provavelmente, a justificar o facto de não haver sido certificado.
Transitamos para um queijo Ilha, também com 7 meses de cura, da marca Uniflores, produzido pela Cooperativa Ocidental daquela pequena ilha do grupo ocidental do arquipélago açoriano. Algo diferente dos queijos produzidos na ilha de S. Jorge ou dos da ilha de S. Miguel, não deixou por isso de se revelar excelente, em paladar, pasta e textura, sendo que o envelhecimento lhe conferiu excelentes qualidades, em que um sabor marcado e um paladar frutado se misturam de uma forma muito suave e harmoniosa. Sem qualquer defeito apontável, revelou-se um magnífico exemplar e com espaço na boca de qualquer apreciador.
Fechamos com aquele que era o melhor dos queijos desta prova. Um excelente S. Jorge DOP, com nove meses de cura (mas que de acordo com o responsável da loja deveria já estar próximo dos 12 meses). Com uma pasta fantástica em que a presença de cristalização lhe confere um arenoso muito próprio e com um toque adocicado, que se mistura com o marcado frutado e o picante (especialmente no fim de boca) que nos fazem desejar automaticamente o pedaço seguinte. Por outro lado, mostrou-se, ao nível da acidez e adstringência, bem diferente dos S. Jorge que muitas vezes encontramos à venda no continente, que leva a que muitos consumidores não tenham na devida conta este extraordinário queijo.
Foi, pois, mais um momento muito interessante de prova, acompanhado de amigos e que nos fazem desejar conhecer e apresentar ainda melhor os belos queijos que os Açores produzem. Uma nota final para referir que, se dúvidas houvesse, este tipo de queijos de grande dimensão (Ilha, S. Jorge) beneficiam e muito de serem vendidos a corte, sendo que o respectivo sabor realçado face às cunhas embaladas, mais práticas sem dúvida, mas que impedem o melhor envelhecimento do queijo.