Há Cada Vez Mais Gente a Mexer no Nosso Queijo

terça, 14 agosto 2018 17:13 Escrito por 

PARTE 4/14: A  Logística 

A operação logística associada à fileira do leite é muito complexa, quer pelo número de operações envolvidas – a montante e a jusante – do processamento industrial, quer pela necessidade de transporte em condições adequadas de temperatura, seja o leite-matéria-prima, seja muitos dos seus produtos terminados, de que o queijo é um dos exemplos principais.

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Sendo os lácteos geralmente produtos de grande rotação na moderna distribuição, as entregas são, em norma, diárias e correspondem a encomendas também diárias. Este ciclo faz com que grande parte deste transporte de mercadorias se faça noite dentro, correspondendo à recepção das encomendas ao fim-de-tarde de um dia e entrega nas plataformas das grandes cadeias de supermercados na madrugada seguinte.

Os elevados volumes movimentados, o facto de uma parte significativa dos veículos utilizados nestas entregas apenas operar de noite e a necessidade de uma resposta muito eficiente por forma a evitar as sempre ameaçadoras penalizações logísticas e de nível de serviço, que os distribuidores são sempre muito céleres a aplicar, fez com que, de há vários anos a esta parte, as grandes empresas do sector tenham abdicado de proceder as estas entregas em viaturas próprias e  se tivesse vulgarizado a subcontratação desse serviço aos grandes operadores logísticos a operar em Portugal.

No sector do queijo e retirando a meia-dúzia de empresas que por volume ou por vocação ou tem frotas próprias amplas ou trabalha continuadamente com aqueles operadores logísticos, as restantes movimentam volumes menores e especialmente no que se refere às entregas ditas capilares (porta-a-porta em estabelecimentos e outras entidades) estão sujeitas à oferta do mercado.

Muitas possuem um pequeno conjunto de viaturas próprias que utilizam para alguns circuitos de entregas de proximidade ou um pouco mais longos, mas regulares, e agrupando um volume de entregas que o justifique, mas, ainda assim, ficam sujeitas às disponibilidades existentes para as restantes entregas.

Em Portugal, o mercado da operação logística capilar e, em especial, das operações que exigem transporte em frio é escasso, muito caro e, infelizmente, de qualidade medíocre.
Os poucos operadores presentes neste mercado trabalham, também eles, com diferentes níveis de subcontratação, fazendo com que, em diversas circunstâncias, o serviço fique praticamente entregue ao livre-arbítrio e ao maior ou menor profissionalismo do recolhedor/entregador, com as consequências fáceis de adivinhar.

Um exemplo deste mau-funcionamento: um levantamento de mercadoria (neste caso, queijos com prazos de comercialização relativamente curtos e para fazer face a encomendas firmes) é agendado para uma dada data, mas ele é efectivamente realizado quando ao recolhedor lhe dá jeito, o que pode ocorrer vários dias depois, deixando ‘pendurados’ fornecedor e cliente. E este ‘fenómeno’ é tanto mais frequente quando a recolha ou a entrega ocorre fora dos principais centros urbanos, que, como é sabido, é onde estão localizadas a quase totalidade das pequenas empresas produtoras de queijo.

Um outro: a apresentação pelo quase único operador neste mercado de novas tabelas de preços para os serviços que presta, de forma leonina e não negociável, tabelas que contêm agravamentos de preços superiores a 100%. Nos dias que correm, com que justificação se pode exigir um aumento, seja no que for, superior a 100%? Para além da prepotência implícita, fica muito clara nessa atitude a completa falta de concorrência que sentem neste mercado.

Contudo, basta percorrer as artérias mais movimentadas das nossas principais cidades para perceber a dinâmica que o comércio dito de rua está a atravessar, o elevado número de estabelecimentos (lojas, restaurantes, cafetarias, hotéis, cantinas e refeitórios, unidades de saúde,…) que estão sucessivamente a abrir e a dificuldade enorme de lhes conseguir fazer chegar os produtos, dificuldade tanto maior se cada entrega, por mais pequena que seja, implicar uma deslocação específica de uma viatura e, no mínimo, de um entregador.

Parece, pois, que esta seria para alguém com alguma visão, uma área e um momento de investimento promissor, com garantia de conquista, com alguma facilidade, de uma razoável quota de mercado e com a possibilidade de um retorno de investimento relativamente rápido.

Um outro ‘caminho’, muito em especial para as entregas locais nas zonas mais movimentadas, mas também de mais difícil acesso, será a chamada überização das mesmas, funcionando por chamada, sem qualquer compromisso prévio e com custos directamente relacionados com o serviço solicitado.

Em qualquer circunstância, soluções alternativas são fundamentais para permitir solucionar ou, pelo menos, minimizar um dos problemas que, actualmente, mais afecta estas pequenas empresas produtoras de queijo.

Continua... 

Parte Nº

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